Tuesday, September 26, 2006

Anosmia

Tentar fazer baixar uma inspiração de escritora, jornalista, seja lá o que for, nessas horas de obrigação de ter que ficar em casa, super comovida com tudo que está acontecendo, a alegria da vida que eu sempre tive e acho um pecado quem não a tem, vai embora de vez em quando, porque a vida nos prega essas?

Inveja, mal-olhado dos outros, acho que isso sempre estará na minha vida, é cada uma que pego, que vou te dizer uma coisa, como se não bastasse a asma que já aturo desde criança, três anos, as outras doenças quando vêm, chegam com tudo. Acabo de voltar de um médico, que me diz que agora eu tenho que evitar uma crise convulsiva, vai à merda, meu irmão, em todo o meu bom carioquês, não sei o que é isso e não quero nunca saber, só quero voltar a acordar sem a cabeça pesada, voltar a não ter pontada nenhuma, voltar a sentir cheiro das coisas, das flores que eu recebi, com tanto carinho, de pessoas que eu não esperava.

Acho que tava tudo muito bom para ser verdade, mas talvez esses momentos sejam necessários para descobrirmos o quanto os outros gostam da gente e se preocupam, o quanto é bom estar atoladíssimo sem nem tempo de curtir a casa. Nossa, como eu prefiro a vida atribulada, do que esse cansaço em fazer nada, esse é um dos piores castigos para mim.

Se alguém ou algo aconteceu para me deixar desse jeito, fez muito bem. Fico preocupada em ler, em ver tv, em ficar no computador e a minha cabeça voltar a doer. É tudo sempre um problema, a ginástica, compras que planejava, achar graça em tudo, nem isso tô conseguindo mais... que finalzinho de ano de merda...

*

O textozinho ai em cima, foi escrito no final de 2005 após um tombo que me causou um coágulo na cabeça e com ele dores incríveis e perda do olfato, dai o nome "Anosmia". Como o tombo foi numa festa e como eu gosto de uma cerveja a primeira coisa que tive que ficar aturando foram as piadinhas: bebeu todas né?! Aliás, as ouço até hoje. Eu desisti de falar que não tinha bebido horrores, até porque me recordo de tudo até a hora do tombo, lembro de eu falando com meu namorado, dando o endereço para ele de onde tinha que me buscar etc.

Veio o tombo, que até hoje não sei direito como foi, pois tive uma "breve amnésia". Não lembro de nada que aconteceu depois, de tão forte que foi a pancada. Acordei no dia seguinte surda de um ouvido e com muita dor de cabeça. Esperei uma semana e a dor foi ficando insuportável, até que fui parar no hospital onde o coágulo foi "descoberto".

Melhorei, voltei para casa, chegando aqui "discuti" com meu namorado sobre um strogonoff que ele dizia feder muito e eu dizendo que era frescura dele, que dava para comer. Passei a não sentir cheiro de outras coisas e demorou um pouco para me tocar que o strogonoff estava realmente fedendo e que era eu que não estava sentindo.

Já se passou quase um ano e não sinto nada ainda. Ele não deve voltar. Pelo menos foi o que os médicos disseram. Tentei até cirurgia espiritual, apesar de ser cética e nada. É, talvez tenha sido exatamente por isso, pelo fato de não acreditar em nada, que a cirurgia não tenha funcionado.

Tudo isso é para dizer que eu não sinto cheiro e tento levar isso numa boa, brinco comigo mesma e faço piadas com os outros, mesmo que várias vezes sinta muita saudade e passe por situações engraçadas.

Há um tempo fui numa loja daquelas de aromas para comprar um presente para minha avó, um aromatizador de ambiente que eu sabia que tinha um cheiro bom pois tinha comprado anteriormente para minha casa. A mulher queria porque queria que eu ficasse cheirando as milhões de coisas que ela tinha. E eu sem cheirar, levei o produto que queria. Ela não deve ter entendido nada...

Em Natal, numa loja de pimenta, lá veio a vendedora colocando-a no meu nariz. Pera ai um pouquinho, moça, é que eu não sinto cheiro.....Amorrrr!!! Vem aqui cheirar a pimenta. Mais uma que não deve ter entendido nada. E para tomar vinho? Eu vou direto na golada, nada de sentir o carvalho, o pimentão, a madeira, seja lá o que for. Perfumes? Eu vou continuar usando (para sempre) os que gostava antes de me tornar uma "anosmica". Coitado de quem tiver perto de mim se um dia eu esquecer o desodorante. Eu vou ficar numa boa...Como o meu namorado fica quando solta pum. Dessa parte ele gostou.

Por falar em gosto, eles mudaram também, mas ainda os sinto. Meu paladar está se adaptando às novidades. Sempre penso: poderia ter sido bem pior. Mas isso não adianta muito quando a saudade de aromas e sabores aperta. Bom, se eu tivesse escolha...

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